Audioslave, será o fim?
15/9/2006
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Por Dani Ferrera
A banda de hard rock Audioslave nasceu das cinzas de dois grupos que lideraram as paradas, mas que se desfizeram quanto estavam no auge do sucesso: Soundgarden e Rage Against the Machine.
Agora que ela acaba de lançar seu terceiro álbum em quatro anos, entre críticas que sugerem que ela está finalmente cumprindo o que prometeu, já não será hora de dar um ponto final também nessa banda?
"Exatamente", diz o vocalista Chris Cornell, rindo. "Está tudo fantástico, e agora já sabemos com certeza que somos capazes de fazer vários outros discos ótimos. Está na hora de alguém deixar a banda".
"Poderia ser qualquer um de nós", ele acrescenta. "Sem falar que, na nossa idade, a morte repentina também é algo que pode acontecer".
É claro que ele está brincando. Seria uma pena se o músico nascido em Seattle há 42 anos ficasse no caminho de um ônibus, agora que acaba de ficar sóbrio e que está curtindo a felicidade doméstica em Paris com sua nova mulher e o bebê deles.
O ex-vocalista do Soundgarden diz que o Audioslave está cercado de boatos sobre rompimento desde que, em 2001, ele se uniu ao guitarrista do Rage, Tom Morello, o baixista Tim Commerford e o baterista Brad Wilk. Afinal, o "supergrupo" parecia ser irresistível, mas, ao mesmo tempo, volátil ao extremo.
A central de boatos se agitou ainda mais recentemente, quanto o Audioslave anunciou que não tinha turnê planejada para coincidir com o lançamento de seu novo álbum, Revelations (Epic/Interscope), que chegou às lojas esta semana. Em lugar disso, Chris Cornell disse que co-escreveria e tocaria a canção-tema do novo filme de James Bond, Cassino Royale. Em outubro ele começará a trabalhar em seu segundo álbum solo.
Resolvendo Problemas
Enquanto isso, Cornell vem promovendo "Revelations" sozinho no circuito de rádios e TV européias, cantando uma versão de Wide Awake, uma nova canção que critica a administração de George W. Bush pela lentidão de sua reação ao furacão Katrina. O cantor disse que sente falta de seus colegas de banda quando eles passam muito tempo longe uns dos outros e que não vê a hora de se juntar a eles no próximo ano, numa turnê.
"Acho que o maior problema para que as pessoas possam sobreviver numa banda e se dar bem entre elas é que músicos geralmente não são o tipo de pessoa que presta muita atenção ou se preocupa muito em saber o que o outro está pensando", disse ele.
No Audioslave, diz ele, os problemas que surgem são resolvidos imediatamente, porque os músicos aprenderam com os erros de suas bandas passadas.
O Rage Against the Machine, liderado pelo vocalista Zack de la Rocha, emergiu como uma das bandas mais politizadas da década de 90; Tom Morello, o guitarrista, formou-se em Harvard, defendia teorias marxistas e criticava os perigos do capitalismo e da censura.
Enquanto isso, o Soundgarden era um dos maiores destaques do cenário rock de Seattle. Os refrões pesados da guitarra de Kim Thayil lembravam o som estrondoso dos pioneiros britânicos do heavy metal, o Black Sabbath. O Soundgarden se desfez em 1997, e o Rage Against the Machine em 2000, quando De la Rocha deixou o grupo, citando discordâncias internas entre seus membros.
O Audioslave lançou seu álbum de estréia, intitulado simplesmente "Audioslave", em 2002. O álbum incluía os gritos que já viraram marca registrada de Cornell e a guitarra repleta de manias de Tom Morello. Mas o disco foi considerado um pouco sério e confuso demais. "Out of Exile", lançado no ano passado, atraiu críticas melhores e estreou como número 1 nas paradas de álbuns dos EUA.
Entre um álbum e outro, Chris Cornell passou por uma transformação. Ele era alcoólatra quando formou o Audioslave, para desgosto de seus colegas de banda. Mas conseguiu deixar o vício, sem a ajuda de algum programa reconhecido como Alcoólicos Anônimos. "Optei por um estilo de vida diferente", ele conta.
Pelo menos ele não precisou completar o novo passo de um desses programas - reparar seus erros -, que poderia ter necessitado um reencontro com sua ex-mulher, Susan Silver, que era empresária do Soundgarden. O divórcio deles, em 2004, foi amargamente litigioso. Recentemente Cornell processou seu ex-advogado de divórcio e seu contador, alegando que eles foram negligentes ao permitir que Susan Silver fosse co-proprietária de sua obra musical, em lugar de apenas ter uma participação nos royalties.
Cornell casou-se depois com uma publicitária e hoje vive na "Cidade das Luzes" com ela e o filho do casal, Chris Jr. A vida deve estar boa para ele, o único membro do Audioslave que aparece rindo no folheto do CD "Revelations".
"Eu devia estar alto", ele brinca.
Mas a conversa logo fica séria. A palavra "ansiedade" é mencionada meia dúzia de vezes. A estabilidade doméstica se faz acompanhar por "uma ansiedade tremenda, quando você percebe que tem algo a perder", diz ele, e há também "a ansiedade gerada pelo estado da política mundial e da política externa americana".
Cornell acha que seu álbum solo vai explorar alguns desses temas. Ele compartilhou algumas de suas preocupações em "Wide Awake", que fala dos líderes americanos "culpados de um crime, de dormir num momento em que vocês deveriam estar muito despertos".
Cornell disse que preferiu compor uma canção sobre o furacão Katrina do que percorrer a trilha da celebridade em Nova Orleans aberta por astros como Sean Penn.
"Eu provavelmente teria sido um ônus, de qualquer maneira. Alguém teria sido obrigado a vir me resgatar", ele conclui, rindo.
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