Coluna: O Som da Coisa - por Herom Vargas
22/4/2009
Motown 50
Não é sempre que uma pequena gravadora altera as bases da música popular de um país. E não é sempre que se comemora o aniversário de seus 50 anos. Me refiro a um selo fundado em Detroit (EUA) em 1959 voltado para a música negra: a Motown Records.
Seu fundador, o letrista Berry Gordy Jr., deu-lhe o nome de Tamla, alterado no final do ano para Tamla-Motown. Este segundo nome, contração de Motor Town, como era conhecida a “capital” da indústria automobilística americana, identificou a gravadora conhecida por introduzir a soul music e o rhythm and blues nos ouvidos da juventude branca dos EUA e do mundo. Seu sucesso foi grande nos anos 1960 e início dos 1970 a ponto de se falar no “estilo motown”: orquestrações bem arranjadas, naipe de metais, percussões e certo requinte visual nas apresentações de seus artistas.
As comemorações já vêm ocorrendo no mundo todo com programas, debates, shows e, principalmente, lançamentos de discos. É o caso do CD triplo Motown 50 – yesterday, today, forever, da Universal, major que ficou com o catálogo do selo após ter sido vendido por Gordy, em 1988, para a gravadora MCA. O álbum é uma compilação de 50 canções da Motown escolhidas por internautas e revela-se um rico panorama do perfil de músicas gravadas pela companhia em seu período áureo.
Como não é um trabalho de críticos, que teriam escolhido repertório mais representativo e com outros critérios, o que caracteriza a coletânea é a memória emotiva do sucesso. Não é à toa que entre as primeiras selecionadas, colocadas no disco 1, estão artistas de grande divulgação, como os grupos Jackson 5, The Temptations e The Supremes e os cantores Michael Jackson, Marvin Gaye e Diana Ross. Nos outros dois CDs, sempre na ordem de escolha feita pelo público, há artistas importantes como Steve Wonder, Martha Reeves & The Vandellas, The Marvelettes e The Commodores.
Algumas canções foram muito tocadas nas rádios, em especial as de Michael Jackson e Marvin Gaye ou sucessos como Easy, com The Commodores. Mas, há faixas menos conhecidas e de grande interesse. Por exemplo, duas gravações de Edwin Starr são ótimos exemplares do suingue do R&B. O mesmo é possível dizer das músicas Heatwave e Nowhere to run, cantadas por Martha & The Vandellas, e da dançante For once in my life, cantada pelo mestre Steve Wonder. Uma faixa especial é a gravação de 1961 de Please Mr. Postman, pelo grupo vocal feminino The Marvelettes. Ouvi-la neste arranjo é boa surpresa para os que a conheceram em 1975 interpretada pela dupla The Carpenters.
O álbum traz ainda encarte com um pequeno texto sobre a Motown, fotos dos principais artistas, a lista de canções com as datas de registro (dado importante para o ouvinte situar a gravação no tempo) e um agradecimento aos primeiros 50 “eleitores” da coletânea.
Herom Vargas, é doutor em Comunicação e Semiótica e professor nos cursos de comunicação da USCS e da Universidade Metodista de S. Paulo. Já tocou em vários bares da vida e, atualmente, pesquisa música popular. Fale com o Herom: redacao@entermagazine.com.br
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