Guns N' Roses: Chinese Democracy
21/11/2008
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Por Ira Carlovich
Axl Rose... Realmente é bom ouvir novamente a voz do vocalista do Guns N’ Roses, assim como disse seu ex-companheiro de banda, Slash, em entrevista recente a respeito do novo disco do grupo, o aguardado e lendário Chinese Democracy.
Na prática, Chinese reflete tudo que envolveu sua produção e é sim um álbum grandioso, super produzido, megalomaníaco e que reflete com exatidão a personalidade de Axl.
Após ter acompanhado durante grande parte de minha infância e adolescência o auge do Guns N’ Roses, realmente o sumiço de Axl Rose dos holofotes abriu uma lacuna no rock que não foi preenchida por nenhum outro nome que tenha surgido na música desde 1993.
Desde o anuncio do lançamento oficial do aguardado Chinese Democracy, fato desacreditado por muitos, o que se tem visto na internet é uma verdadeira febre a respeito do álbum, assim como a tudo em torno do nome Guns N’ Roses, o que mostra ainda mais a força de Axl como ícone da música pop.
E eis que chega o dia que foi esperado por tantos: agora finalmente podemos escutar no que Axl trabalhou por mais de uma década e com uma legião de músicos e produtores. Resultado: Chinese é complexo, mostra detalhes novos a cada audição.
Para facilitar uma análise, dividi o trabalho em núcleos, já que desde a primeira audição, a divisão entre as músicas já me pareceu algo muito claro e óbvio.
No primeiro grupo colocarei canções do novo disco que possuem sonoridades mais características dos álbuns Use Your Illusion I e II: Street of Dreams, Catcher In The Rye, This I Love e Sorry. Nelas, a presença das belas melodias de piano, aliados a bases de guitarra e andamento semelhantes a clássicos como November Rain e Estranged. Essas canções provavelmente são as que mais agradarão fãs da formação clássica do grupo.
O lado mais rock’n’roll, mas já sem a crueza do Guns dos tempos de Appetite For Destruction, aparece nas faixas Chinese Democracy, Scraped, Riad N’ The Bedouins e I.R.S. As três juntas somam um número incrível de ótimos riffs de guitarra, assim como solos e linhas de bateria mais agressivas.
No próximo grupo entram faixas que mesclam vocais clássicos de Axl com elementos eletrônicos: Shackler’s Revenge, Better e Prostitute. Em Better o resultado é muito satisfatório, alia-se bem a sonoridade clássica da banda com uma faceta mais moderna e ela tem tudo para se tornar um dos maiores hits de Chinese Democracy. Prostitute também tem seus grandes momentos, principalmente em termos melódicos. Shackler’s, embora mostre potencial principalmente no refrão, parece perder uma boa oportunidade de se tornar ainda melhor submersa em meio a muitos efeitos e solos inspirados em Tom Morello. A sensação é que nela acontece muita coisa ao mesmo tempo, uma produção excessiva.
No último grupo, deixei três músicas do álbum nas quais Axl certamente passou muito tempo na elaboração e produção dos arranjos, são as épicas There Was A Time, Madagascar e If The World.
As duas primeiras têm ótimos momentos melódicos e criativos que quase as fazem entrar no grupo de canções que poderiam fazer partes dos UYI. O que acontece é que os arranjos eletrônicos que permeiam ambas causam estranheza e prejudicam o resultado final das duas boas canções. TWAT e Madagascar ainda assim soam bem.
Em If The World temos o grande ponto baixo do álbum: a música, que fará parte da trilha do filme Body Of Lies, parece ter sido pensada para isso mesmo, trilha sonora de algum filme. Ela de maneira alguma se encaixa na tracklist de Chinese Democracy, soa deslocada e é a favorita para se tornar a mais criticada perante fãs de todas as gerações do grupo.
É claro que a audição do disco logo mostra que existem muitos pontos fracos na obra e que em muitos momentos ele soa como um mosaico esquizofrênico de vontades de Axl Rose, que parece não conseguir (ou não querer, talvez?) definir uma identidade para esta nova fase da banda. Não se pode confundir: Chinese Democracy não é homogêneo. E isso, neste caso, de maneira alguma pode ser chamado de ecletismo.
Ainda assim, o lendário disco é importante, entrará para história do rock (talvez mais por tudo o que o cerca do que por suas composições), será um sucesso mercadológico e vai provar que Axl continua muito vivo e ainda tem muito a fazer pela música pop.
Chinese Democracy não aponta novos caminhos para o rock, mas dá pistas do que Axl pode lançar no futuro com o nome da banda. Um bom disco, com muitas ressalvas, mas que nos traz novamente a voz de Axl Rose. E talvez por saudosismo, como é bom escutá-la novamente!
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